Papaguaio-verdadeiro

Sei imitar os homens e os bichos. Aprendo tudo o que me ensinam e mais alguma coisa. Falo, canto, assobio, passo pitos. Arremedo os latidos dos cachorros, os cacarejos das galinhas, os pigarros, as tosses, os barulhos da casa.

Chamo as pessoas que vivem junto de mim pelo nome. Às vezes me torço de rir. Se você ficou entusiasmado e está com vontade de me ter na sua casa, não comece, por favor, me tratando muito bem, me deixando passear no jardim ou na varanda, me fazendo festa, conversando comigo, para depois me abandonar numa gaiola ou num viveiro, o dia todo sozinho.

Primo-pertíssimo do papa-cacau e do moleiro, sou travesso, alegre, esperto, carinhoso, e me apego ao meu dono, se ele for bom comigo. Mas tomo antipatia por quem me maltrata. E não suporto implicância nem brincadeiras de mau gosto. Meu nome é papagaio-verdadeiro, ou ajuruetê, ou ajuru, ou papagaio-grego, ou cumatanga, ou papagaio-trombeteiro, etc. Em liberdade, moro no Brasil (Piauí, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Rio Grande do Sul) e em outros lugares da nossa América.

Chego a uns trinta e sete centímetros de comprimento, e até mais. Fora da época do casamento, costumo andar com os meus companheiros, em grupo grande, atrás de comida, e, com eles, ataco às vezes as plantações dos homens.

De tardinha nós nos acomodamos em árvores para passar a noite, no meio de uma gritaria medonha e de uma brigalhada horrível: cada qual quer dormir no melhor lugar. De madrugada, recomeça a agitação, que acaba num concerto barulhentíssimo. De repente é a partida: o grupo levanta vôo batendo as asas com força.